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A minha simpatia por índios vem de longa data, e mais se acentuou quando vi um filme magnífico "O pequeno grande homem" onde se evidenciava toda a vivência deles e a sua filosofia muito própria em relação ao modo sábio de encarar a vida e, o mais importante, o respeito que têm pelos mais velhos, em contraste com o que acontece nas civilizações ditas evoluídas. São uma raça muito interessante e, às vezes é empregue o termo "índio" com uma conotação pejorativa, sem qualquer fundamento ou razão de ser.
Segundo historiadores, antes da chegada dos europeus à América, havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Em território brasileiro, havia aproximadamente 5 milhões. Estes índios estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guarani (região do litoral), macro-jê ou tapuia (região do planalto central), aruaque e caraíba (Amazónia).
Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios, com 200 e 170 línguas que ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.
O primeiro contato entre índios e portugueses deu-se em 1500 e foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. A Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral ) e documentos deixados pelos padres jesuítas dão-nos essa informação.
Os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho.
Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas, e portanto, dominavam-nos, pondo-os ao seu serviço. A cultura indígena era considerada pelos europeus como sendo inferior e grosseira. Assim, acreditavam que a sua função era convertê-los ao cristianismo e fazê-los seguir a sua cultura. Desta forma, aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e identidade.
Interessados nas suas terras, usaram a violência para se apoderarem delas, chegando a matar os nativos ou, até mesmo, transmitir-lhes doenças para dizimar tribos. Esse comportamento violento durou séculos, resultando no pequeno número de índios que hoje existem.
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio), domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi. Faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza, respeitando muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.
As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato acontecia em momentos de guerra, casamentos, cerimónias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, em função do sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Os homens ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A educação indígena é bem interessante e prática. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprendem desde pequenos de forma prática, observando o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o filho para que aprenda. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem, numa cerimónia iniciática, ingressa na vida adulta.
Algumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes. A prática do canibalismo era feira em rituais simbólicos.
Cada tribo possuía crenças e rituais religiosos diferentes; mas todas acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para homenagear estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimónias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais uma vez que acreditavam numa vida após a morte.