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Quarta-feira, 08.02.17

Carnaval

Os estudiosos, sobre este tema, não são unânimes quanto à origem da palavra. Há quem defenda que  Carnaval deriva de carnis levale (adeus carne). Esta interpretação da origem etimológica da palavra remete-nos para o início do período da Quaresma, uma pausa de 40 dias nos excessos cometidos durante o ano, que incluem, segundo a religião católica, a alimentação. Assim, este período de tempo era, na sua origem, não apenas um tempo de reflexão espiritual como uma época de privação de certos alimentos como a carne.
Na Antiguidade, o Carnaval era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e aconteciam alegres celebrações em busca incessante de prazeres; prolongava-se por sete dias nas ruas, praças e casas da antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. Todas as atividades e negócios eram suspensos neste período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que desejassem e as restrições morais eram esquecidas. As pessoas trocavam presentes, era eleito um rei por brincadeira que comandava o cortejo pelas ruas (saturnalicius princeps), daí haver hoje em dia a tradição de rei de carnaval e as fitas de lã que amarravam aos pés da estátua de Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar na folia. Pensa-se que terá tido a sua origem na Grécia  através da qual os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses. Passou a ser uma comemoração adotada pela Igreja Católica em 590 d.C. antes da Quaresma.
No período do Renascimento, em Veneza, as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram os baile de máscaras, com suas ricas fantasias e os carros alegóricos, não tão esfuziante como no Brasil, mais enigmático no entanto.  Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
O Carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Santa Cruz de Tenerife, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro  inspiraram-se no Carnaval parisiense para implantar suas novas festas carnavalescas.
No Rio de Janeiro, onde o Carnaval é a sua festa de eleição, criou e exportou o estilo de fazer carnaval com desfiles de escolas de samba para outras cidades do mundo, como São Paulo, Tóquio e Helsinquia. No famoso carnaval do Rio desfilam escolas de samba no sambódromo perante milhares de pessoas. A Globeleza de 2017, isto é a rede  da Globo que transmite o carnaval, bem como a mulata que aparece no início do desfile que costumava aparecer seminua, e também  se denomina assim, desiste da nudez, ao contrário de anos anteriores, e apela à inclusão e representatividade.
Em Portugal, em várias cidades brinca-se ao carnaval segundo a inspiração brasileira, mas o mais genuino tem lugar na região de Trás-os-Montes em Caretos, com figuras típicas do carnaval tradicional na freguesia de  Podence onde estes dias de folia são vividos com rituais e tradições muito próprias. 
No Domingo e Terça-Feira de Carnaval, os Caretos de Podence, correm pelas ruas, atrás das mulheres, principalmente das novas e solteiras, para "chocalhá-las", isto é,  abraçá-las lateralmente e com movimentos rápidos de semi-rotação da cintura fazer com que os chocalhos que transportam à cintura lhes batam repetidamente nas nádegas.
Simbolicamente associados, na crença popular, ao espírito do mal, ou a tudo aquilo que se afigure misterioso, como forças sobrenaturais e ocultas, curandeiros, bruxos, poderes diabólicos e o próprio Satanás auferem de total impunidade durante esse curto período, embora costumem aparecer no Domingo Magro.
Os fatos dos caretos, extremamente garridos, são guardados e vestidos por rapazes de geração em geração, constituindo uma verdadeira relíquia para a família que os possui. Confecionados na própria aldeia, são feitos de colchas antigas, de lã ou de linho, muito raras hoje em dia, feitas em teares caseiros, cortadas depois ao jeito de fato; calças e casaco com gorro ou capuz. As três peças são quase totalmente recobertas com franjas de lã de carneiro, tingidas de diversas cores, ao gosto de quem os faz ou veste, embora as cores tradicionais sejam o vermelho, o amarelo e o verde.
E se esta tradição vem da Antiguidade a Festa dos Caretos, de lá virá também, supostamente, a designação de lares dada em Podence às grandes lareiras sobre as quais se cozinha ainda hoje em panelas de ferro, quem sabe, a fazer lembrar os deuses Lares, simbolizados por pequenas estatuetas colocadas nos altares domésticos de cada casa romana, dia e noite alumiados. Ao redor dos lares reúne-se a família, sentada nos bancos de madeira, os escanos,  a dar voz à ceia  e aos serões do tempo frio, aconchegada no calor do lume, quando a água gela nas fontes e deixa de fazer ouvir a limpidez do canto.

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