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A Casa Andresen, no Jardim Botânico do Porto, primeiro polo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto vai abrir em maio, uma exposição tendo como pretexto a antecipação da inauguração da Galeria da Biodiversidade, e com base na literatura de Sophia de Mello Breyner, apresentar um espetáculo de teatro, performance, "vídeo mapping" e ... uma baleia.
Esta baleia leva-nos até ao mês de novembro de 1937. A norte de Leixões, na Praia do Paraíso, uma "Balaenoptera musculus" tinha dado à costa. As dimensões, do focinho à extremidade da cauda, o dorso cor de ardósia, a cor negra das barbatanas peitorais e das barbas não deixavam margem de dúvida, tratava-se de uma baleia azul. O animal foi arrematado por um industrial para aproveitamento do óleo e restantes despojos, tendo ficado o esqueleto à disposição do Instituto de Zoologia Dr. Augusto Nobre, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. O tratamento e preparação decorreu na Estação de Zoologia Marítima, que ficava situada na Avenida de Montevideu, na Foz.
Este é o esqueleto da baleia referido no conto "Saga", do livro Histórias da Terra e do Mar de Sophia de Mello Breyner Andresen. O conto fala do jovem Hans que das águas gélidas do norte da Europa, e contrariando a vontade do pai, embarca num veleiro rumo ao sul. Ancorou numa cidade de colorido intenso e sombrio, que bem poderia ser o Porto. Acolhido por um inglês, torna-se um homem de negócios e faz fortuna. Compra uma quinta que do alto de uma pequena colina descia até ao cais de saída da barra, escreve Sophia. Quinta essa, que tudo leva a crer, será a mesma onde a autora e o primo, também escritor, Ruben Andresen, terão brincado na infância. O conto será inspirado na história do bisavô de Sophia, Jann Hinrich Andresen, que veio para Portugal em meados do séc. XIX, deixando para trás a ilha de Förh, no arquipélago das Frísias. Nesta quinta existia um palacete que, em 1951, foi adquirido e entregue à Universidade do Porto. Tudo na casa era desmedidamente grande, escreve Sophia: desde os quartos de dormir onde as crianças andavam de bicicleta até ao enorme átrio para o qual davam todas as salas e no qual, como Hans dizia, se poderia armar o esqueleto da baleia que há anos repousava, empacotado em numerosos volumes, nas caves da Faculdade de Ciências por não haver lugar onde coubesse armado.
Da Faculdade de Ciências passou para o seu Museu de Zoologia, e após um trabalho de restauro e recuperação, o esqueleto da baleia ficará então de novo patente ao público naquela que será a futura Galeria da Biodiversidade.
A Casa vai ter exposições permanentes e, sendo um Centro de Ciência Viva, terá espaços interativos para todas as classes etárias. Irá também acolher atividades diversificadas dirigidas a todos os tipos de público sobre o tema da biodiversidade sempre em cruzamento com outras áreas de conhecimento, especialmente no âmbito das artes e da literatura. Mais uma valia para a nossa cidade.