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Na minha opinião o sentido que nos traz mais recordações da nossa infância é o olfato, que funciona como banda sonora das nossas lembranças e vivências.
Parafraseando Pedro Barroso, que admiro muito e servindo-me duma frase que serve de refrão a uma das belas canções que escreveu, "quando desfolho o livro velho da memória"... hoje, e porque não conseguia dormir por ter sido apanhada por uma constipação, dei por mim a folhear esse velho livro que sempre me acompanha e os cheiros que me vinham à memória traduzem bem toda uma vida tão longínqua mas que não se apaga nunca.
Vou começar pelo memória mais antiga de todas, quando aos cinco, seis anos brincava no jardim infantil do Palácio de Cristal e pasmem, ainda me lembro da cara das empregadas que nos punham nos baloiços, de bata azul e sorrios rasgados de muita ternura e cumplicidade de tal forma marcante que hoje ainda recordo com a maior nitidez; o cheiro das bananas e bolacha maria que faziam parte do meu lanche e que saboreava quando os retirava de uma bolsinha vermelha que usava a tiracolo e que, sentada junto a um lago que havia no recinto, forrado a azulejos com motivos infantis, saboreava como de um manjar se tratasse..
A seguir lembro o cheiro das gavetas da minha avó que guardavam fotos antigas e uma coleção de caixinhas muito bonitas e que fazendo parte do imaginário dela, faziam as minhas delícias sempre que lhe pedia para as ver; recordo o cheiro da roupa a secar ao sol no quintal, palco das minhas brincadeiras, de uma frescura sem nome.
Lembro o cheiro a cera que invadia a escadaria da minha casa e que dava uma frescura impar a toda a casa.
Lembro o cheiro da lareira quando ia para as vindimas numa aldeia da região do Douro, chamada Vilarinho de Cotas. e onde o cheiro que saia das telhas vãs das casas térreas se espalhava pela aldeia, o cheiro do caldo de feijão que fumegava nas malgas e serviam de ceia aos trabalhadores que labutavam todo o dia e se reuniam no alpendre no final do dia na casa dos caseiros; o cheiro do vinho a ser transportado do lagar para os toneis que ficavam na adega bem por baixo do quarto onde dormia.
E o pão de 4 cantos de favaios, comido de manhã ao pequeno almoço, que o padeiro nos trazia à porta, montado no seu burrito, ainda hoje sinto aquele cheiro
As pessoas crescidas falam muito das recordações do passado talvez por o futuro já não ser muito longo. Foi bom recordar.
O video que apresento foi só um suporte para ilustrar algumas memórias, nada tendo de pessoal.